quarta-feira, 28 de julho de 2010

Casar em tempo de crise?

"Acreditar na Família é construir o futuro"

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Nesses dias eu e meu noivo participamos de um programa na televisão [TV Canção Nova], no qual testemunhamos nossa história e anunciamos a data do casamento. Como era um programa interativo no qual também respondíamos a perguntas dos telespectadores, uma das questões me faz escrever este artigo. O internauta nos perguntava como tínhamos a coragem de nos casar em tempo de crise? Diga-se de passagem, aqui na Europa se vive hoje uma das maiores crises econômicas da história. No programa deixei que meu noivo falasse, já que em questão de economia eu não vou longe e é justamente a área dele. A resposta dele não poderia ser melhor, e eu a apresento, pois acredito que poderá ser uma direção de Deus para a vida de muita gente no dia de hoje.

Ele respondeu assim: "Vamos nos casar em tempo de crise, porque nossa segurança não está nas finanças deste mundo, e sim, em Deus. Hoje temos a certeza de que Deus nos chama a assumir a vocação do matrimônio e acreditamos, pelos frutos da nossa história, que está na hora de darmos este passo. Mas se não avançamos por medo da crise que testemunho de fé estamos dando? Deus é fiel e não nos deixará faltar o necessário, a experiência que fazemos dia a dia nos dá esta certeza. É por isso que vamos nos casar mesmo em meio à crise econômica. Nossa confiança está no Senhor!"

Além de concordar plenamente com a resposta de meu noivo, eu a completo afirmando que, ao assumirmos a vocação do matrimônio, estamos, antes de tudo, correspondendo ao projeto de Deus para este mundo: a formação de famílias cristãs. Creio que a família é a instituição bendita e querida pelo Senhor desde sempre, tanto assim, que Ele mesmo escolheu vir a este mundo por intermédio de uma família. Mas é principalmente nesta época em que, além da crise econômica, sofremos também as consequências da crise de valores, de identidade e tantas outras que Deus Pai conta com a colaboração dos que são chamados à vocação do matrimônio para dar continuidade ao Seu plano de amor neste mundo.

Acredito que a família é o maior investimento da sociedade! Mesmo agredida por tantas forças sociais, muitos a levam em consideração porque sabem qual é o valor dela. João Paulo II, com razão, afirmou tantas vezes: "Acreditar na Família é construir o futuro".

Nossa fé tende a amadurecer e a nos comprometer. Se compararmos a família a uma árvore, lembramos que é próprio desta dar frutos, e estes, por sua vez, trazem sementes para que, lançadas ao solo, possam germinar e crescer. Eu que sou fruto de uma árvore frondosa: minha família, acredito que chegou o tempo oportuno de lançar a semente em terra e deixá-la germinar, nascer, crescer e frutificar.

Ainda em relação ao tema que me levou a escrever, acredito que já esteja claro. Se colocarmos nossa confiança na economia deste mundo, realmente não será tempo para casar; aliás se pensarmos assim, quase nunca será o tempo de dar passos como este. Mas se somos cristãos e queremos corresponder aos desígnios do Senhor, não podemos parar diante dos obstáculos.

É preciso unir a fé a razão e seguir em frente! Ser coerentes e responsáveis com os compromissos que assumimos, sim, mas sabendo que nossa confiança não pode estar centrada nas seguranças humanas.
O emprego que temos hoje poderemos perdê-lo amanhã, neste mundo tudo é passageiro e a nossa confiança em Deus é fundamental para alicerçarmos qualquer decisão, também com relação ao casamento. A Palavra do Senhor diz: "Confia no Senhor de todo o teu coração e não te apoia no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas" (Provérbios 3,5).

Acredito que nossa vocação primeira é amarmos e sermos amados. Portanto, amemos com profundidade, correspondendo a este chamado divino para que nossa vida seja fecunda e feliz e não tenhamos medo de dar frutos.

Estamos juntos!
Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com
Dijanira Silva Missionária da Comunidade Canção Nova, em Fátima, Portugal. Trabalha na Rádio CN FM 103.7

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O teólogo Clodovis M. Boff, OSM, irmão do conhecido Leonardo Boff, escreveu um longo artigo no site adital.com.br, de 16.06.2008,  mostrando o erro fundamental da teologia da libertação (TL), de viés marxista, que fez o atual Papa a condenar como uma “heresia singular”, em 1984, como Prefeito da Congregação da Fé , em sua Carta “Eu vos explico a teologia da Libertação” (veja no site http://www.cleofas.com.br/). 

Por muitas vezes e de várias formas o Papa João Paulo  II condenou esta teologia – a de cunho marxista – por não se coadunar com a fé da Igreja. Agora, o teólogo C. Boff, que dela participa desde o início, mostra em seu artigo na Adital, que de fato houve e há razões teológicas e pastorais para que tal teologia da libertação seja condenada.

Adital - http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=33508
O artigo todo pode ser lido no site da Adital, mas basta ler a sua “Síntese” para entender o essencial da importantíssima revelação de C. Boff. Ele diz:

“Quer-se mostrar aqui que a Teologia da Libertação partiu bem, mas, devido à sua ambigüidade epistemológica, acabou se desencaminhando: colocou os pobres em lugar de Cristo. Dessa inversão de fundo resultou um segundo equívoco: instrumentalização da fé “para” a libertação. Erros fatais, por comprometerem os bons frutos desta oportuna teologia. Numa segunda parte, expõe-se a lógica da Conferência de Aparecida, que ajuda aquela teologia a “voltar ao fundamento”: arrancar de Cristo e, a partir daí, resgatar os pobres”. 
Esta  Síntese já é suficiente para entendermos o que C. Boff revelou -  a partir de dentro da TL – e que já conhecíamos há muito tempo. Mas alegra-nos saber que alguém dentro dela teve os olhos abertos pelo Espírito Santo para ver a verdade de Cristo ensinada pelo Sagrado Magistério ministrado pelo Papa.  C.Boff deixa claro ao menos três erros básicos, que não deixam margem  a colocar a TL na categoria de “heresia singular” como dizia o Cardeal Ratzinger.  1 - Em primeiro lugar ele reconhece que “devido à sua ambigüidade epistemológica, acabou se [a TL] desencaminhando”. Ora, uma teologia que se desencaminha, desorienta os seus seguidores e provoca uma imensa confusão na pastoral e na Igreja. Imediatamente tem de ser coibida pelo Magistério; o que foi feito, graças a Deus, com pulso firme e grande sabedoria para evitar cismas, por parte do Papa João Paulo II. Muitas e eficazes foram as medidas que esse santo, sábio e douto homem de Deus soube tomar. Não se pode deixar de dizer que o seu braço direito nessa árdua tarefa foi o atual Papa. Não é sem motivo que o Espírito Santo o colocou na Cátedra de Pedro, apesar da idade.  

2 - A segunda revelação importante de C. Boff, é quando ele diz que a TL “colocou os pobres no lugar de Cristo”. E ai esta a “causa mortis” da TL como teologia. Ora, não existe teologia sem Deus e sua Revelação. Retirar Cristo do centro da teologia e colocar nela, como “fator determinante” o pobre, é esvaziá-la completamente e subverte-la. O que sobra é  sociologia, como aliás um dia a classificou João Paulo II. Nesta linha todo o Cristianismo é “virado de cabeça para baixo” ou no avesso, como disse o então cardeal Ratzinger. Na prática, a Bíblia é lida numa visão sociológica e não religiosa, a Liturgia passa a ser celebração de uma ação política, a Moral é relativizada e vivida segundo as “necessidades” do pobre, o Credo um conjunto de verdades secundárias, os Sacramentos perdem sua força, os pecados, só existem os sociais… Enfim, a fé se evapora, o povo fica à mingua da verdadeira Catequese e do sagrado… e se dispersa para outras bandas, como vimos acontecer tristemente.

C. Boff afirma: “A prioridade do pobre e de sua libertação se tornou na TL um pressuposto quase que “evidente por si mesmo”. Aí está posto sem problemas. Contudo, está posto de modo teoricamente indeciso e confuso, permitindo ambigüidades, equívocos e reduções”…“Em resumo: por falta de uma epistemologia rigorosa e clara, a TL labora em ambigüidades; laborando em ambigüidades, cai no erro de princípio. E do erro de princípio só podem provir efeitos funestos, como veremos em breve”.        

O terceiro erro mortal da  TL que Boff revela no seu artigo é a “instrumentalização da fé “para” a libertação”. A fé foi politizada, causando imensa confusão e agitação na Igreja. A TL penetrou nas Comunidades Eclesiais de Base e as transformou, em sua maioria, em Comunidades mais políticas que eclesiais, aliadas muito a serviço de  certos Partidos políticos… Surgiu também  toda uma ação política muito discutível por parte de certas  Pastorais sociais. Este grito de Boff, no seio da própria TL deve servir de reflexão a toda a Igreja no Brasil, desde os catequistas até os Bispos, é o que sugiro com humildade e puro amor à Igreja.           

C. Boff tenta salvar a TL; ele diz: “Queremos aqui, numa primeira parte, fazer um questionamento de fundo da Teologia da Libertação. A intenção não é desqualificar a TL, mas, antes, defini-la de modo mais claro e refundá-la sobre bases originárias. Só assim se podem garantir seus ganhos inegáveis e seu futuro”. 

Deus queira que a sua voz seja ouvida no seio dos seguidores de Gutierrez, L. Boff, Jon Sobrino, etc, de modo a se criar uma teologia da libertação como aquela que pediu o Papa João Paulo II, “necessária”, a serviço dos pobres e oprimidos, desvalidos e excluídos, mas sem usar o veneno marxista da violência e do ódio de classes como meio de revolução e de mudança. Se o grito de Boff for ouvido poderemos ter uma TL boa e “necessária”.

Como o texto de C. Boff e´ muito longo e interessante, vou parar por aqui, mas sugiro que se leia o seu artigo na íntegra; aliás contestado por seu irmão Boff, no mesmo site. 
Gostaria de sugerir que os leitores ouvissem a palestra do Padre  Paulo Ricardo: ”Palestra Cardeal Ratzinger e a Teologia da Libertação”  - http://www.padrepauloricardo.org/  - Escute a palestra ou faça o download em mp3
Nas últimas semanas de dezembro de 2009 o Papa Bento XVI condenou novamente a Teologia da Libertação (TL). Nas palavras do Pontífice a TL realiza uma interpretação inadequada da Bíblia, nega-se a pregar o evangelho, direciona a estrutura da Igreja para atividades que são incompatíveis com o cristianismo e o mais grave, elimina a fé que existe nos fiéis.
Oficialmente a TL procura exprimir a fé cristã num contexto social marcado pela pobreza e pela injustiça social. É preciso ter consciência que para a TL são os pobres que marcam o lugar da ação histórica e do encontro com Deus. Nesta perspectiva, a fé cristã só adquire substância histórica quando considera os pobres e excluídos como desafio incontornável e, portanto, é imperioso haver a opção preferencial pelos pobres. Ninguém, nem mesmo o Papa Bento XVI, condena ou critica a Teologia da Libertação por se dedicar a libertação dos pobres e demais grupos socialmente excluídos. Historicamente a Igreja cometeu erros, mas qualquer historiador ou sociólogo que tenha o mínimo de honestidade irá afirmar que a Igreja foi uma das instituições, na sociedade ocidental, que mais promoveram a integração humana e, por conseguinte, a emancipação dos injustiçados.
Aparentemente há uma contradição entre a condenação oficial da Igreja emanada principalmente pelo Papa Bento XVI e o discurso oficial da Teologia da Libertação.
Afinal, qual o principal erro da Teologia da Libertação?
Sinteticamente serão apontados três erros da Teologia da Libertação.
Primeiro, a TL afirma que o pobre é o lugar de Salvação e, por isso, a Salvação se dá por meio do pobre. Isso contraria gravemente os ensinamentos bíblicos e a doutrina da Igreja. Para a Bíblia e a para a Igreja o lugar da veracidade da teologia é toda a humanidade, com todos os seus grupos e segmentos sociais e, não apenas o pobre. Cristo veio para toda a humanidade e não apenas para os pobres, justamente porque “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3, 23). Jesus Cristo não é o Salvador apenas de uma classe social (o proletariado) e de um grupo social (os pobres), mas de toda a humanidade. Ele não salva apenas a vida material (comer, vestir, etc), mas salva o homem em sua totalidade (vida econômica, emocional, espiritual, estética, etc).
Segundo, em grande medida libertar o homem da pobreza significa oprimi-lo dentro de novas formas de sofrimento físico e espiritual. As populações da Europa e de outras partes do planeta que conseguiram se libertar da pobreza atualmente vivem sob o jugo de novas opressões (terrorismo, depressão, suicídio, individualismo, ditadura da mídia, morte da democracia, etc). Jesus Cristo sabe que o libertador de hoje fatalmente é o opressor de amanhã.
Terceiro, o real intuito da TL não é libertar o pobre. Se realmente a Teologia da Libertação desejasse libertar o pobre, ela não apoiaria abertamente regimes tirânicos como Cuba e a Coreia do Norte. O pobre não passa de massa de manobra dentro dos planos da TL. O que realmente ela deseja é implantar na América Latina um regime fechado nos moldes de Cuba. Na prática a Teologia da Libertação funciona como uma cabeça de ponte, ou seja, de um lado, é uma forma de ideias e doutrinas não cristãs entrarem dentro da Igreja. Entre essas doutrinas cita-se: o secularismo, o ateísmo, a defesa de um Estado totalitário e, por causa disso, a opressão de toda a população. A TL funciona como uma espécie de idiota útil, ou seja, deve legitimar o discurso opressor oriundo do totalitarismo. Sendo que essa legitimação é feita por meio da estrutura da Igreja e de uma indevida interpretação da Bíblia. Do outro lado, a Teologia da Libertação funciona, a nível latino-americano, como um grande palanque político da esquerda. Não é crime uma facção religiosa ter uma ideologia política. Muitos grupos religiosos adotam posições e ideias políticas. O grande problema é que a TL afirma defender o pobre. Na prática o que realmente ela deseja é angariar a simpatia e os votos dos pobres para a esquerda.
A Teologia da Libertação simplesmente ignora que historicamente foi a esquerda quem persegui e matou milhões de cristãos em todo o mundo. Grande parte dos sofrimentos que a Igreja sofreu nos últimos duzentos anos se deve à esquerda. A esquerda é a grande propagadora, a nível mundial, do ateísmo e de doutrinas anticristãs. Entretanto, tudo isso não interessa a TL. A Teologia da Libertação está mergulhada num mar de alienação, de totalitarismo e de doutrina marxista anticristã. O Papa Bento XVI está correto ao condenar essa facção teológica.
Por fim, é preciso afirmar que sem dúvida a teologia e, portanto, toda a Igreja devem estar preocupadas e empenhadas em combater a pobreza, principalmente a pobreza extrema que causa a morte física do indivíduo. A sociedade cristã não pode admitir a existência de pobres e de pessoas morrendo de fome. Entretanto, a luta contra a pobreza deve ser feita por meio da doutrina social da Igreja e não por meio da ideologia marxista, opressora e totalitária defendida pela Teologia da Libertação. Os países que a TL apresentam como modelos (Cuba, Coreia do Norte, Venezuela) não extinguiram a pobreza. Os modelos de homens propostos pela TL (Marx, Che Chevara, Fidel Castro, etc) são pessoas que trouxeram para seus países a morte e a destruição. Quem realmente deseja combater a pobreza deve ter como modelo Jesus Cristo, a Virgem Maria e os santos. Além disso, deve colocar em prática a doutrina social da Igreja.

Cardeal Eugenio Sales comenta fala recente do Papa sobre o tema

RIO DE JANEIRO, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org).- Apresentamos o artigo que o cardeal Eugenio de Araujo Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, difundiu esta quarta-feira no portal da arquidiocese do Rio, abordando o tema da Teologia da Libertação.
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Erros de certas T.L.
O apelo urgente que o Papa Bento XVI endereçava aos Bispos dos Regionais 3 e 4 da CNBB, em visita “ad límina” a 5 de dezembro 2009, não se limitou aos Bispos que estavam presentes, mas, como sempre nessas visitas, se dirige ao Episcopado inteiro e a toda a Igreja no Brasil.

O Santo Padre lembrou as circunstâncias prementes que, 25 anos atrás, exigiam uma clara orientação da Santa Sé no Documento “Libertatis Nuntius”. Este, já na primeira linha, afirma que “o Evangelho é a mensagem da liberdade e a força da libertação”. Daquele documento, a Igreja recebia grande luz; mas não faltava a animosidade dos que queriam obscurecer e difamar essa doutrina.

Com palavras claras e sempre muito mais convidativas para uma reflexão serena do que repreensivas, o Papa lembrou a gravidade da crise, provocada, também e essencialmente na Igreja no Brasil, por uma teologia que tinha, em seu início, motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores. Tais rumos doutrinários da Teologia chamavam-se Teologia da Libertação.

A alocução do Papa aos Bispos dos Regionais Sul 3 e 4 é uma mensagem que envolve a autoridade apostólica do Supremo Pastor e o bem evangélico da Igreja entre nós. Por isso, urge que todos os pastores acolham a palavra do Papa e se lembrem daquela crise, que tornava quase impossível, mesmo em ambientes às vezes de alto nível eclesiástico, o diálogo e a discussão serena. Hoje ainda, a Igreja no Brasil, em alguns lugares, sofre consequências dolorosas daqueles desvios.

Ao relativizar, silenciar ou até hostilizar partes essenciais do “depósito da fé”, a Teologia da Libertação negligenciava “a regra suprema da Fé da Igreja, que provém da unidade que o Espírito Santo estabeleceu entre a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério vivo”, diz Bento XVI, citando as palavras do Papa João Paulo II (“Fides et Ratio”, 55). “Os três não podem subsistir independentes” entre si. – Por isso, hoje ainda, as sequelas da Teologia da Libertação se mostram essencialmente ao nível da Eclesiologia, ao nível da vida e da união da Igreja. A Igreja continua enfraquecida, em algumas partes, pela “rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia” (mensagem de Bento XVI). Diz o Santo Padre: Cria-se assim “nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas” (Bento XVI, idem).

Já no documento “Libertatis Nuntius”, do ano 1984, o Papa João Paulo II e a Congregação da Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, quis “estender a mão” e oferecer a clara e “benigna luz” da divina fé e da comunhão viva que o Espírito Santo dá à Igreja (Bento XVI, ibd).

Com palavras concisas e fortes, o documento “Libertatis Nuntius” sobre a Teologia da Libertação falava da justa “aspiração à libertação como um dos principais sinais” do tempo moderno. Especialmente “nos povos que experimentam o peso da miséria”, com suas massas deserdadas, ofendidas na sua profunda dignidade (cf. LN I,1-2). “O escândalo das gritantes desigualdades entre ricos e pobres já não é tolerado”. “Abundância jamais vista, de um lado, e, do outro, vive-se ainda numa situação de indigência, marcada pela privação dos bens de primeira necessidade” (I,6).

Infelizmente, certas Teologias da Libertação, as que mais espaço ocupavam na opinião pública, caíram em um grave unilateralismo. Para o Evangelho da libertação é fundamental a libertação do pecado. Tal libertação exige “por consequência lógica a libertação de muitas outras escravidões, de ordem cultural, econômica, social e política”, todas elas derivadas do pecado. Muitas Teologias da Libertação afastaram-se deste verdadeiro Evangelho libertador. Identificaram-se, coisas em si muito boas, com as graves questões sociais, culturais, econômicas e políticas, mas já não mostrando seu real enraizamento no Evangelho, embora vagamente citado, e chegaram até a apelar explicitamente à “análise” marxista. Silenciavam, ou ignoravam, que “na lógica marxista não é possível dissociar a «análise» da «práxis» e da concepção da história” (VIII,2). Destarte, “a própria concepção da verdade encontra-se totalmente subvertida” (VIII,4).
Compreende-se que diante da urgência da situação de tantos que – inermes – sofrem, e diante da insuficiente sensibilidade na consciência pública e nas estruturas dominantes, devem-se exigir não só palavras retóricas, mas ações que na prática se comprometem com cada pessoa, com cada comunidade e com a história.

Mas se este compromisso não se enraíza na dignidade que Deus dá ao homem, tal Teologia, que se apresenta como Libertadora, é na realidade traidora dos pobres e de sua real dignidade (Introdução). “Certo número de teses fundamentais (da TL) não são compatíveis com a concepção cristã do homem” (cf. VIII,8).

O Santo Padre, sabendo que, sob muitos aspectos a Teologia da Libertação está ultrapassada, sabe também e vê que a Igreja no Brasil sofre ainda devastadoras sequelas de tal desvio doutrinário, propagado longamente até por gente bem intencionada, mas não capaz de analisar seus falsos princípios.
É quase um juramento que o Papa conclama os Bispos e agentes de Pastoral de todo o Brasil: “Que, no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras da Santa Cruz” (final da mensagem de Bento XVI).

Cardeal Eugenio de Araujo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

A propósito da realização no próximo dia 07 de agosto, em Natal, Rio Grande do Norte, do 2º Encontro de integrantes do então Movimento de Natal, recordo-me de duas iniciativas deste trabalho que, na década de 50, impulsionaram o surgimento das Comunidades de Base no Brasil: a experiência da cidade de São Paulo do Potengi com a criação de núcleos de comunidades para o cultivo da vida cristã e a de educação pelo rádio. Através desse veículo, as comunidades se reuniam para participar da missa onde o sacerdote não podia estar presente e a alfabetização era empreendida como um grande desafio. Iniciativas, entre outras, inspiradas pelo Espírito Santo que guia a Igreja.

À medida que se desenvolvem e crescem nossas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), manda a prudência cristã que haja vigilância na defesa de suas características essenciais. A eficácia desse admirável instrumento de evangelização, proporcionado pelo Espírito Santo, dependerá da preservação de sua identidade religiosa.

O fulcro sobre o qual está depositado o futuro das CEBs é a fidelidade às orientações do Magistério que governa a Igreja. Elas são parte integrante das paróquias e estas, das comunidades diocesanas que estão sob a direção dos Bispos e do Sucessor de Pedro, o Santo Padre.
Qualquer procedimento discordante constitui uma traição e uma ruptura, com a separação do tronco e a supressão da seiva divina. Como está expresso no Documento de Aparecida, “as comunidades eclesiais de base, no seguimento missionário de Jesus, têm a Palavra de Deus como fonte de sua espiritualidade e a orientação de seus pastores como guia que assegura a comunhão eclesial” (nº 179).

Há perigo de desvios? Sim. Quando veio ao Brasil, o Papa João Paulo II, em 1980, deixou um documento intitulado “Mensagem aos Líderes das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil”. Nele observava o Sucessor de
Pedro: “Sublinho, também, esta eclesialidade, porque o perigo de atenuar essa dimensão, de deixá-la desaparecer em benefício de outras, não é nem irreal nem remoto. Antes, é sempre atual. É particularmente insistente o risco de intromissão do político. Esta intromissão pode dar-se na própria gênese e formação das comunidades (…). Pode dar-se também sob a forma de instrumentalização política das comunidades que haviam nascido em perspectiva eclesial” (nº 3). Tratava-se de uma advertência que não chamaria de profética, pois já existiam desvios que motivaram a paternal e firme admoestação do Romano Pontífice.

Isto foi dito há trinta anos e, ainda hoje, conserva toda a sua atualidade. Acrescente-se o que lemos no nº 58 da Carta Magna das CEBs de todo o mundo, a “Evangelii Nuntiandi”. Neste documento, com a autoridade que lhe confere o título de “Exortação Apostólica”, o Papa Paulo VI dá a legítima orientação da Igreja católica nessa matéria.

Diante da importância dessa atividade religiosa, é dever do Bispo e de milhares de integrantes das Comunidades Eclesiais de Base zelar pela observância dos rumos dados pelo Magistério. É o que João Paulo II chamava de “uma delicada atenção e um sério e corajoso esforço para manter, em toda a sua pureza, a dimensão eclesial dessas comunidades”
(idem).

Com alguma frequência, se manifesta, em certos meios, incontrolável desejo de independência face às normas que nos são ditadas pela Santa Sé. Para esses cristãos, vale mais a autonomia e a autodeterminação.
Trata-se de um comportamento oposto ao verdadeiro “sentire cum Ecclesia”, “sentir com a Igreja”, que contradiz as aspirações de uma liberdade sem restrições, com um rompimento com tudo o que contraria o modo de conceber a estrutura religiosa e a atividade pastoral. Ora, se somos católicos, a obediência às leis da Igreja não é facultativa, mas obrigatória.

Não há oposição às Comunidades Eclesiais de Base, quando estas são verdadeiras. Cristo deixou uma estrutura, que é intocável. No decorrer dos tempos, adaptações no acidental foram introduzidas, mas resta inalterado o essencial. Não cabe ao fiel proclamar o que aceita ou rejeita, não é o povo de Deus que decide, mas o Espírito Santo que, embora “sopre onde quer”, jamais está em contradição consigo mesmo, Ele que dirige a obra de Cristo desde suas origens.

Nossos sofrimentos têm gerado anseios legítimos por uma nova sociedade, válida somente quando identificada com a nova civilização do amor, tantas vezes proclamada pelos últimos Santos Padres. Um socialismo em senso estrito não é solução para nossos males. A conversão das pessoas e não somente das estruturas sociais é o caminho evangélico.

Nessa mesma linha corre-se o risco de infiltração partidária nas Comunidades Eclesiais de Base. No entanto, formar os leigos para levarem às agremiações políticas o fermento da doutrina cristã é missão das CEBs.

Uma outra fonte de contradição é a falsa interpretação da Sagrada Escritura. O Santo Padre nos adverte que as CEBs devem receber da Igreja a “reta interpretação da Revelação divina na Bíblia e na Tradição, os meios de salvação, as normas de comportamento moral, a vida de oração, a liturgia etc” (idem, nº 4).

Eis alguns pontos, entre outros, que pedem nossa atenção. Um exame do que vemos e ouvimos, a ser comparado com o que caracteriza uma verdadeira Comunidade Eclesial de Base. Com coragem, devemos “conservar intacta a sua dimensão eclesial, não obstante tendências ou impulsos que venham do Exterior ou do próprio País, num sentido diverso” (idem, nº 3). AS palavras deixadas por João Paulo II nos orientam para discernir o certo do errado, dentro do que se afirma ser Comunidade Eclesial de Base.

Padre não é Assistente Social

Padre não é Assistente Social

Todas as pessoas que não concordam com este novo perfil de sacerdote inventado pela Teologia da libertacao:Um sacerdote que é mais um assistente Social. Tirou-se a verdadeira missão do sacerdote,de pastor,obediente a santa Igreja, pois a primeira obrigação de um Padre é celebrar o Santo sacrifício,celebrar os sacramentos,pregar o Evangelho e anunciar as verdades ensinadas pela Igreja. Mais a TL,veio com esta idéia de um Jesus apenas preocupado com a justiça social.É claro que devemos nos preocupar com os mais necessitados, mais acima de tudo devemos seguir a Jesus, a Doutrina da Igreja.card. Ratzinger diz:
"Sem resposta para a fome da verdade, sem cura das doenças da alma ferida por causa da mentira ou, numa palavra, sem a verdade e sem Deus, o homem não se pode se salvar. Aqui descobrimos a essência da mentira do demônio. Deus aparece na sua visão do mundo como supérfluo, desnecessário à salvação do homem. Deus é um luxo dos ricos. Segundo ele, a única coisa decisiva é o pão, a matéria. O centro do homem seria o estômago"

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Renovação: evolução sectária ou eclosão primaveril
Este fim de milênio está marcado – iluminado – pela emergência de novos movimentos e correntes de renovação batismal, que estão em vias de rejuvenescer a Igreja pelo interior, de torná-la mais transparente aos olhos de seu Senhor, mais luminosa da luz do Espírito e, portanto, mais próxima dos pequenos e dos pobres, aos quais ela ousa dizer: O Reino está aí, em vós!
Admirável, imprevisível resposta do Espírito Santo às ondas sucessivas de secularismo mundano, de liberalismo teológico, de relativismo moral e de religiosidade pagã que pareciam querer varrer a Igreja, como outrora o Islã ou o que se convencionou chamar de Luzes.
Abrem-se aqui as fontes que saciam a sede daqueles que morrem de sede em nosso mundo desértico.
Levanta-se aqui uma geração inesperada de padres, missionários, apóstolos com o coração de fogo, que confessam sua fé com a vida: aqueles dos últimos tempos.
Nascem aqui comunidades novas, verdadeiros laboratórios do mundo de amanhã.
Forjam-se aqui os jovens precursores que preparam o ano 2000.
Formam-se os pais e portanto as famílias que farão da Igreja do terceiro milênio a vasta família das famílias.
Em suma: aqui sobe silenciosamente a seiva – promessa e já realidade – da primavera da Igreja, da qual os primórdios deste terceiro milênio verão a plena florescência. Independentemente do que digam ou pensem os profetas de desgraça.
De onde vem tal certeza? Do simples fato de que a verdade termina sempre por prevalecer sobre a mentira, e a aurora sobre as trevas, por mais densas que sejam. E por quê? Simplesmente porque Deus continua a ser Deus, e Deus será sempre Deus. Independentemente do que digam ou pensem os eternos resmungões.
Isso, ninguém melhor do que os nossos últimos papas o pressentiram. Ouvir-se-á ressoar aqui a alegria deles, beirando o entusiasmo. E como os verdadeiros pastores não deveriam com isso se alegrar, confortar-se e consolar-se em seu coração de pais?
Participando dessa grande primavera eclesial e fazendo-a acontecer, todas essas eclosões eclesiais católicas irradiam sobre uma multidão1.
Esses novos movimentos espirituais – como Roma os denomina – são, de fato, a genial réplica do Espírito Santo diante da maré baixa do espiritualismo pagão que invade o Ocidente. São esses movimentos que atendem plenamente aos reclamos dos místicos, de comunidades calorosas e fraternais, das quais seitas e religiões do extremo Oriente são a expressão.
Novos movimentos, mas também fundações novas, de tipo mais clássico, nas quais o antigo é restituído de maneira inteiramente nova2.
Essa ampla gama de novos movimentos-correntes-fundações não é o equivalente para os dias atuais da variedade das ordens e congregações religiosas, cada qual com sua espiritualidade própria? Essa esplêndida variedade, que respeita e acolhe diversas sensibilidades, é uma das mais belas riquezas da Igreja de hoje.
Como não dar graças por isso? E não exultar?
No decurso de meus “giros apostólicos” (já perto de 150) pelo mundo, fico encantado com sua eclesialidade, sua vitalidade, sua beleza...
Já há quinze anos, a serviço dos jovens, e encontrando-me com eles, nas primeiras fileiras, no combate da Verdade, tive a felicidade de estabelecer laços regulares com a maioria desses grandes movimentos, como também com um bom número de novas fundações.
Mas, não podendo tratar de todas elas aqui, limitar-me-ei a uma das emergências mais características dessa vasta “florescência carismática” (João Paulo II em Compostela): a Renovação no Espírito Santo, ou carismática, que eu prefiro chamar batismal ou pentecostal3.
Por conhecê-lo a partir de dentro, será essencialmente dele que tratará este livro. Seu interior, embora seja difícil falar dele, representa por si só uma verdadeira constelação na galáxia dos novos movimentos, dos quais não se pode jamais separá-lo. Pois a Renovação não tem nada de monolítica, e a variedade das diferentes comunidades ou expressões culturais permite também, aqui, atender a diferentes sensibilidades. Essas expressões tão variadas manifestam a inesgotável criatividade do Espírito Santo.
Do lado católico, o big-bang original explodiu há cerca de trinta anos, com o núcleo que foi o grupo-protótipo da Universidade Duquenese, em fevereiro de 1967. Constituiu imediatamente um rastro de pó fulgurante, como nenhum outro movimento contemporâneo. Trinta anos mais tarde, embora aqui e ali ele pareça dar sinais de sufocação, pedindo um novo sopro – uma renovação da Renovação! -, está, em geral, em plena expansão4.
ATACADA MARGINALIZADA, SOB SUSPEITA...
Sem dúvida, por isso a Renovação é regularmente vítima de ataques agressivos ou de manobras insidiosas que visam desacreditá-la, quando não eliminá-la da paisagem eclesial, da qual agora faz parte integral, após trinta anos de existência. Ataques e manobras provenientes às vezes de não-cristãos – que por isso mesmo só vêem as coisas do exterior -, porém mais freqüente – e isso é mais doloroso – de certos católicos...
Compreendidas por Roma desde seus primórdios, progressiva e globalmente bem-assumidas pelos bispos, pouco a pouco acolhidas com simpatia pelas correntes tradicionais – que, após um compreensível espanto, conseguiram distinguir o essencial -, essas novas correntes continuam, por outro lado, a ser marginalizadas, desprezadas, quando não rejeitadas por aqueles mesmos que – globalmente – desconfiam da hierarquia ou recusam as posições doutrinais do papa. De onde vem certo risco de divisão no interior da Igreja católica.
Essa estranha alergia à Renovação se deve com freqüência a essas etiquetas aparentemente indeléveis – mais tatuagens que decalcomanias! – que são coladas na Renovação, a partir de alguns slogans que datam de um quarto de século e que nunca ninguém se deu ao trabalho de rever. Na França, tais etiquetas contribuíram para “marginalizar” a Renovação, para considerar seus membros como párias ou cidadãos de segunda classe, tendo direito de cidadania apenas em algumas paróquias (por certo, ninguém confessará isso!). Na eventualidade de alguma paróquia recebê-los nessas condições!
Muitas coisas ditas aqui poderiam também ser aplicadas – mutatis mutandis – a outras “correntes primaveris” da Igreja, que não pretendo de modo algum subestimar. Muito ao contrário!
Atualmente, estamos diante de uma recrudescência desses ataques, particularmente na França, mas também na Alemanha e na Itália: campanha orquestrada ou simples coincidência?5 Não se ouviu na França, no noticiário do meio-dia de uma cadeia nacional de TV, a afirmação categórica, sem a menor retificação: “O totalitarismo e o sectarismo são componentes da Renovação”?
Tais críticas acerbas emanam de grupos-pessoas que, em razão de certas opções ideológicas, têm muita dificuldade para entender um fervor batismal, uma fidelidade eclesial, um dinamismo caritativo e missionário que parecem incomodá-los. Eles parecem ter dificuldade em aceitar na Igreja um pluralismo de espiritualidades e de opções pessoais que elogiam alhures. Além disso, não raro se aferram a clichês que caducaram ao longo dos anos, sem se dar ao trabalho de um mínimo de informações objetivas e atualizadas.
Elas vêm também de pessoas decepcionadas ou feridas por esta ou aquela comunidade ou grupo de oração e que sentem a necessidade ou o dever de alcançar o grande público. Com o risco – inerente a esse gênero de operação – de serem recuperadas por grupos de pressão que, para incriminar a própria Igreja, vão “utilizar o sofrimento de uns e a calúnia de outros”.
Que milhões de fiéis pelo mundo afora seja assim desprezados diante de milhões de cidadãos: esse excesso é por demais prejudicial! Não se pode permitir passivamente que a verdade mais evidente seja publicamente escarnecida. Aqui, passivamente seria sinônimo de covardia. Ou ainda pior: de silenciosa cumplicidade.
Diante de tais infrações à verdade, que lançam perplexidade e suspeita sobre uma multidão de inocentes, não se tem o direito de ficar calado! Diante de tantas pessoas, especialmente de jovens – junto aos quais exerço meu ministério –, em que uma dúvida grave pode ser semeada, como ficar passivo?
Além disso, por que será necessário que tudo passe assim pelo crivo implacável da suspeita psicanalítica?6 Tudo parece suspeito e, portanto, perigoso. Ainda que em qualquer campo possa haver riscos de erro, por que é preciso que tudo na vida cristã seja sistematicamente objeto de suspeita, de desprezo? Em última análise, de condenação...
Submetida a tais critérios, toda a vida consagrada e toda a vida simplesmente cristã – estritamente evangélica e, além disso, fervorosa – deveria ser condenada. Não haverá nenhum ideal que funcione sem se desviar de seu objetivo? Nenhum valor seguro? Nenhuma certeza possível? Nenhum ponto de referência evidente? Nenhum porto seguro em tempos de tempestades?
Não, isso não é religiosamente correto. Isso é exagero, foge das normas que a sociedade deve respeitar...
Pretende-se criar uma Igreja de puros, onde até mesmo o direito ao erro é proibido? Pretende-se arrancar o trigo junto com o joio?
Manchas, falhas, excessos, é certo que existem! Que rio não carrega detritos para suas margens? Deve-se secá-lo por causa disso? Perigos, ilusões, ciladas, é certo que existem! A oração e a ação também não comportam isso? Será preciso, por causa disso, abster-se delas?
Pretende-se desesperar um jovem em sua busca de beleza, de pureza, do absoluto? Frustrá-lo em sua necessidade de radicalidade, de verdade, de gratuidade? Quebrá-lo em seu impulso em direção aos cumes?
Nada solapa tanto as razões de viver de um jovem quanto essa mania destrutiva da ironia, do sarcasmo, da caricatura. Quando não da calúnia: como pedradas no corpo da Igreja!
Por outro lado, na psicose atual das seitas – até a fobia –, tratar a Renovação como seita é de extrema gravidade.
Pois é preciso saber o seguinte: uma definição de “seita” formulada por deputados da Grã-Bretanha no Parlamento europeu permite facilmente englobar nessa definição todas as comunidades das diferentes ordens e congregações católicas7. Se tal definição é aprovada, não importa que governo de tipo totalitário poderá fazer fechar, da noite para o dia, todas as comunidades católicas. Como em 1902.
Eis o risco: hoje as novas comunidades. Amanhã, beneditinos, carmelitas, clarissas!
Entende-se ainda mais a urgência que há em esclarecer as coisas. Tomando aqui a defesa enérgica das novas comunidades da Renovação, protege-se no mesmo ato e de antemão as mais antigas.
Mas tudo isso é bom sinal: prova ao menos que esses movimentos estão bem vivos e vão de vento em popa! Caso fossem galhos rachados, se zombaria deles!8

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1. Focolari, Neocatecumenato, Encontro de Casais com Cristo, Cursilhos, Comunhão e Libertação, Renovação carismática, para não falar em Taizé (um dos primeiros irmãos sendo um amigo de infância, encontramo-nos em Ruanda para ali criar a primeira comunidade monástica mista, católicos-protestantes).
2. Irmãozinhos e irmãzinhas de Belém, de São João, de São Domingos (o Cordeiro), Comunhão de Jerusalém, Maria-Rainha Imaculada, para me ater tão-só à França. Alhures: Villaregia (Itália); Tiberíades (Bélgica), Comunidade monástica da Cruz (Quebec) etc. Foi uma emoção para mim tornar a ver aí com freqüência jovens reencontrados alguns anos antes, quando dos retiros-reuniões, ou recém-integrados à Jeunesse-Lumière (cf. p. 54, as comunidades saídas diretamente da Renovação).
3. O aspecto carismático propriamente dito é uma das dimensões realçadas pela Renovação. Ao emprega-lo, é preciso deixar claro que ele não monopoliza mais a dimensão carismática de toda a Igreja e de toda a vida batismal, assim como o epíteto católica não é monopolizado pela Ação chamada católica. Isto é evidente: toda a vida cristã deve ser carismática e pentecostal sob pena de não ser cristã!
4. As estatísticas publicadas por diferentes instâncias oficiais estabelecem geralmente 60 milhões de católicos renovados (7% dos 890 milhões). Na França, entre 150 e 200 mil pessoas, em aproximadamente mil grupos de oração. Uma pesquisa revela: “As comunidades carismáticas francesas figuram entre os raros movimentos católicos em franca expansão nos últimos quinze anos” (Le Point, 14 de setembro de 1996).
5. Na Itália: Les Sectes du Pape; na França: Les Naufragés de l’Esprit, Des sectes dans l’Eglise catholique. Como aceitar – sem o menor matiz – uma expressão tão radical quanto esta: “Desde o início, a manipulação das consciências constituiu um dos traços estruturais dominantes da Renovação” (Les Naufragés de l’Esprit, p. 282).
6. Ver exemplos no anexo 1.
7. Ver Anexo 2: “Quem escapará da acusação de seita?” D. JEAN VERNETTE, que participa de numerosos colóquios internacionais, nos comunicava recentemente a surpresa dos não-franceses diante dessa espécie de “caça às bruxas”no país dos Direitos Humanos.
8. Do mesmo modo, precedendo sua recente vinda à França, as campanhas de calúnias contra o papa manifestavam que ele não passava de um pobre velho senil. Por que tal agressão da mídia, tornando a França semelhante a um país ocupado? Com efeito, esse desencadear de agressões rançosas só serviu à popularidade do papa. Muitas pessoas ficaram tão desgostosas com isso que desligaram o televisor e afluíram a Sainte-Anne, Tours e Reims – Nas condições de cansaço que se conhece: “É demais! Nós o amamos! E, como não temos acesso às redes de televisão e aos microfones, só nos restam nossos pés e nossa alegria para dize-lo, e prova-lo!” E eis cerca de 700.000 pessoas envolvendo-o com a sua presença entusiasta e orante!
Do livro “A Renovação, primavera da Igreja!”,
de Daniel Ange, Edições Loyola
A RCC, um Movimento da Igreja ou uma Torrente de Graça?
Por Maria Eugenia de Gongora

Em Atos dos Apóstolos, encontramos a confirmação de como a Igreja tem sido revitalizada através da ajuda do Espírito Santo desde o início de sua vida. As primeiras comunidades, nas quais a “alegria e singeleza de coração” (At 2, 46) reinavam, eram ricas em dinamismo, abertura e zelo missionário. Estas comunidades partilhavam o partir do pão em amor fraternal, iluminadas pela Palavra, servindo uns aos outros com humildade mútua – e eram um testemunho autêntico que atraía a admiração daqueles que observavam os discípulos - estimulando em muitos o desejo pela conversão e por partilhar este novo estilo de vida. O Evangelho de São João nos oferece uma fotografia desta nova família espiritual dedicada a amar “Amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado” (Jo 13, 34).
Estes irmãos daquele tempo testemunharam o poder e a eficácia da Palavra: curas, libertações, sinais e prodígios aconteceram em abundância. Nesta atmosfera, era normal viver sob a vigorosa ação de Deus, que produzia coragem renovada diante das perseguições, inspirando um amor profundo e crescente; e tudo isto era o fruto da Sua presença. Em Atos 1, 8, há uma referência específica à promessa de Jesus referente à efusão do Espírito e aos resultados maravilhosos de Sua ação em nossos irmãos daquele tempo. É certo, portanto, esperar que esta ação continuará a operar na Igreja de hoje também: toda a Igreja deve ser renovada.
Quando comparamos as primeiras comunidades de cristãos às de hoje, compreendemos que algo do amor e da intensidade daquele tempo foi perdido, provavelmente como consequência de termo-nos tornado mais burgueses e egoístas. A predisposição autêntica para com o ideal espiritual foi progressivamente diluída e substituída por um ceticismo frio que entorpece, limita e congela e, em seu pior estágio, mata. Não deveríamos talvez renovar nossa fé na promessa de Jesus que nos enviou Seu Espírito Santo no início da história da Igreja, assegurando-nos também: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20)? Vimos estas palavras de Jesus se tornarem realidade em diferentes fases da história da Igreja, particularmente em momentos difíceis devido a conflitos e situações que fizeram parecer que o barco de Pedro havia afundado: a ajuda divina nunca falhou e sempre estimulou novos dons espirituais através da renovação do impulso do Espírito. Hoje também somos atores e protagonistas de uma ação renovadora poderosa na Igreja, vivendo em uma “torrente de graça” abençoada que leva o nome de Renovação Carismática, um novo convite do Senhor para um Cristianismo que se manifesta através de sinais e comportamentos evidentes, o fruto de nossa abertura à maravilhosa ação do Espírito. Esta torrente renovadora envolve toda a Igreja: não podemos reduzi-la a um simples “Movimento” ou “Associação”; é um sopro poderoso do Espírito que queima na Igreja para nos tirar de nossa indiferença e torpor. Devemos recuperar este tipo de experiência, típica das primeiras comunidades cristãs, confirmando assim o que Jesus prometeu: “Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores que estas, porque vou para junto do Pai” (Jo 14, 12).
Para aqueles que dizem que a RCC passará, podemos responder com convicção de que isto não acontecerá: a Igreja, em toda a sua história, sempre recebeu do Espírito um sopro renovador em resposta às necessidades do mundo em cada era... e assim será no futuro” Obviamente, a fim de colaborar com esta “torrente de graça” neste período da história, também necessitamos de estruturas que possam garantir um serviço adequado à Igreja e à sociedade. Com este propósito a Igreja, em sua sabedoria, considera esta “torrente de graça carismática” também como um “Movimento Eclesiástico”, canonicamente reconhecido e aprovado. Assim o Santo Padre, João Paulo II, falou em sua mensagem aos Movimentos da Igreja e às Novas Comunidades na véspera de Pentecostes de 1998 (30 de maio) na Praça de São Pedro: “É a partir desta redescoberta providencial da dimensão carismática da Igreja que, tanto antes como depois do Concílio, aconteceu uma linha singular de desenvolvimento dos Movimentos da Igreja e de Novas Comunidades”. O termo “Movimento”, portanto, se refere às entidades que frequentemente são diferenciadas umas das outras, mesmo em sua forma canônica. Este termo não é uma definição rígida, nem tampouco expressa, de forma plena, a riqueza das formas que surgem da criatividade do Espírito de Cristo que traz vida. Além disso, também indica uma entidade eclesiástica concreta formada principalmente por leigos e leigas e que consiste na fé e no testemunho Cristão que baseiam a razão de sua existência em um carisma específico concedido ao seu próprio fundador em circunstâncias específicas e através de métodos específicos. É o Espírito que funda e dá identidade à RCC. Não temos dúvida quando afirmamos que é Ele que guia a RCC no caminho que a levou a ser aprovada pela Igreja através do reconhecimento papal dos estatutos e serviços do ICCRS, em 14 de setembro de 1993, durante a Festa da Exaltação da Cruz. Não podemos deixar de salientar que estes estatutos têm ajudado muitos países na elaboração de seus próprios estatutos, capacitando  muitas comunidades locais da RCC a desempenhar fielmente tanto a missão de evangelização  - através do testemunho do amor fraternal que Jesus nos ensinou – e da difusão e promoção da “Cultura de Pentecostes”, tão ardentemente desejada por nossos amados Papas João Paulo II e Bento XVI.  Afirmar, portanto, que a RCC é uma “torrente de graça” não é uma contradição ao fato dela ser um “Movimento”. É, de fato, um movimento.... do Espírito Santo. Daí que, queridos irmãos e irmãs, convidamo-os para que, com Espírito renovado,  deixem-se ser preenchidos pela graça divina a fim de viver e servir a Igreja fundada por Jesus: a Igreja de ontem, de hoje e de todos os tempos;  a Igreja que Jesus confiou à ação santificadora do Seu Espírito!
 
Sereis batizados no Espírito Santo
Na celebração da vigília de Pentecostes de 2004, em Roma, o Papa João Paulo II afirmou em seu discurso: “Desejo que a espiritualidade de Pentecostes se difunda na Igreja como um renovado salto de oração, de santidade, de comunhão e de anúncio” (29/05/2004).
Ora, o elemento central de toda a espiritualidade de Pentecostes não é um devocional, um rito litúrgico ou uma novena de orações, simplesmente. Aquilo de mais significativo que a espiritualidade de Pentecostes - mormente em conseqüência da reflexão emanada do Concílio Vaticano II a respeito da Pessoa e do operar do Espírito Santo - tem resgatado e oferecido à Igreja é uma experiência: a experiência do chamado “Batismo no Espírito Santo”...
“Entre os católicos da Renovação a frase ‘batismo no Espírito Santo’ se refere a dois sentidos ou momentos. O primeiro é propriamente teológico. Nesse sentido, todo membro da Igreja é batizado no Espírito Santo pelo fato de ter recebido os sacramentos da iniciação Cristã. O segundo é de ordem experiencial e se refere ao momento ou processo de crescimento pelo qual a
presença ativa do Espírito, recebido na iniciação, se torna sensível à consciência da pessoa. Quando se fala, na renovação católica, do batismo no Espírito Santo, recebido na iniciação, se torna sensível à consciência da pessoa. Quando se fala, na renovação católica, do batismo no Espírito Santo, geralmente se refere a essa experiência consciente que é o sentido experiencial.” (Documento de Malines, Orientações Teológicas e Pastorais da RCC, Cardeal Suenens e outros). Para Dom Paul Josef Cordes - atual presidente do Pontifício Conselho Cor Unum (das obras de misericórdia) - , “o batismo no Espírito Santo” é experiência concreta da “graça de Pentecostes” na qual a ação do Espírito Santo torna-se realidade experimentada na vida do
indivíduo e da comunidade de fé.
O “derramamento do Espírito Santo” é introdução decisiva a uma renovada percepção e a um novo entendimento da presença e da ação de Deus na vida pessoal e no mundo. É, em suma, a redescoberta experiencial, na fé, de que Jesus é Senhor pelo poder do Espírito para a glória do Pai. Enraizado na graça batismal, o “batismo no Espírito” é essencialmente a experiência da renovada comunhão com as pessoas divinas. É abertura e manifestação da vida trinitária nos que foram batizados [...] Com demasiada freqüência, indivíduos batizados não tiveram um encontro genuíno com o Senhor; “muitas vezes não se verificou a primeira evangelização” e ainda não há “adesão explícita e pessoal a Jesus Cristo” (Catechese Tradendae 19). Segundo ainda Dom Paul Cordes, a expressão “batismo no Espírito” pode ser usada em muitos sentidos. Aqui, “batismo no Espírito Santo” é usada com respeito à experiência de receber o Espírito Santo com a vida de graça, juntamente com a recepção dos carismas, como parte integrante da iniciação cristã, ou como reapropriação ou inspiração mais tardia em um contexto não-sacramental do que já foi recebido na iniciação (op.cit; p.28). Como se vê, há de se entender aqui a palavra “batismo”, no seu sentido primário, não sacramental, que se refere ao ato de mergulhar, imergir alguma coisa ou alguém em uma outra realidade (no nosso caso, um “inundar-se” no mistério da efusão do Espírito dispensado pelo Pai por intermédio de Jesus, em Pentecostes, que foi “derramado” conforme a promessa (cf. At 2,16-21).
Também se recorre com freqüência ao termo efusão do Espírito ou, ainda, “derramamento do Espírito”, e mesmo “um liberar do Espírito Santo”, querendo-se, sempre, referir-se àquela experiência que nos leva a abrirmo-nos mais à realidade da Trindade de Deus em nós, com uma crescente consciência a respeito do significado dos sacramentos da iniciação cristã, nos batizados
sacramentalmente. Essa especial e profunda “percepção” – definida, perceptível, envolvente – do relacionamento pessoal com Jesus Cristo que essa experiência proporciona não faz parte de nenhum movimento em particular - em caráter exclusivo - mas é patrimônio da Igreja, que celebra os sacramentos da iniciação e por quem recebemos o Espírito Santo.
Antes de entender e elaborar uma teologia a respeito do Espírito Santo, os apóstolos tiveram uma experiência com Ele. Ainda que, a princípio, não entendêssemos tudo o que pode significar, os frutos desse chamado batismo no Espírito deveriam, por si sós, motivar-nos a querê-lo, a desejá-lo- e com muita sede - para a nossa vida de fé. Alguns dos frutos que se percebem na vida dos que buscam e experimentam essa graça são:
•Conversão interior radical e transformação profunda da vida;
•Luz poderosa para compreender melhor mistério de Deus e seu plano de salvação;
•Novo compromisso pessoal com Cristo;
•Gosto pela oração pessoal e comunitária;
•Amor ardente à Palavra de Deus na Escritura;
•Busca viva dos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia;
•Amor verdadeiro e autêntico à Igreja e às suas instituições;
•Descobrimento de uma verdadeira opção preferencial pelos pobres;
•Entrega generosa ao serviço dos irmãos, na fé.
•Força divina para dar testemunho de Jesus em todas as partes;


BESERRA DOS REIS, Reinaldo. Celebrando Pentecostes: fundamentação e novena. Editora RCC BRASIL. Porto Alegre-RS)
A efusão do Espírito Santo

Por sua Páscoa, Jesus Cristo redimiu todo o gênero humano. Por Ele, todos os homens têm acesso à salvação. É fundamental, porém, que todos e cada homem - já salvos - assumam, explícita e pessoalmente, essa salvação. O mistério da salvação oferecido gratuitamente por Deusprecisa ser aceito livremente por cada um de nós, como opção pessoal, em uma atitude de obediência de fé. “ Para que se preste essa fé, exigem-se gravação prévia e adjuvante de Deus e os auxílios internos do Espírito Santo, que move o coração e converte-o a Deus, abre os olhos da mente e dá ‘a todos suavidade no consentir e crer na verdade’. A fim de tornar sempre mais profunda a compreensão da Revelação, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa continuamente a fé por meio de Seus dons” (Constituição Dogmática Dei Verbum, n. 5).
Ou seja, não se avança na percepção progressiva do mistério da salvação realizada por Jesus Cristo sem se deixar habitar em plenitude pelo Espírito Santo, sem experimentar continuamente de sua efusão admiravelmente manifestada, derramada, dada e comunicada em Pentecostes (cf. Catec; n. 731),mas prometida para estar conosco eternamente. “Tendo entrado uma vez por todas no santuário do céu, Jesus Cristo intercede sem cessar por nós como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo.” (Catec., n. 667).
O Espírito não cessa, pois, de levar continuamente as pessoas à experiência do Cristo vivo e ressuscitado, por meio de sua efusão. Crentes, descrentes, batizados só de nome, praticantes, santos e pecadores, são visitados por essa graça pascal (v. Catec., n.731), e dão um salto qualitativo na fé, que vai de um não conhecimento, de um conhecimento insuficiente, de um conhecimento estribado na cultura e na razão, apenas, a um conhecimento experiencial, que aguça a fé e sacia a sede e que envolve todo nosso ser e proporciona a todos uma progressiva tomada de consciência a respeito do real significado dos sacramentos da iniciação cristã, do que significa ser cristão, ser salvo, ser Igreja... E não precisamos ficar esperando que, aleatoriamente, uma hora aconteça conosco. Ou, se já aconteceu, achar que foi o suficiente. Jesus nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo, como vimos. Quem tiver sede, vá a Ele e beba (Jo 7, 37-39), mais e mais. Se o nosso pecado, se a nossa tibieza, se a nossa pequena fé nos esmorecem, enchamo-nos do Espírito (cf. Ef 5, 12)! Agora isso é possível. É possível oferecermos ao Espírito mais e mais espaço em nossa vida para que Ele a replene com sua plenitude. Ele, que já está em nós, pode manifestar-se, aqui e agora, segundo a Sua vontade e nossa abertura à Sua ação...
E até quando vamos ter necessidade da Efusão do Espírito? Até atingirmos a santidade!!! Isso mesmo, pois, “... se o batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus mediante a inserção em Cristo e a habitação de seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. Perguntar a um catecúmeno: ‘Queres receber o Batismo?’ significa ao mesmo tempo pedir-lhe: ‘Queres fazer-te santo?’ (Novo Millennio Ineunte, 31). Em março de 2002, falando aos membros de uma delegação da “Renovação no Espírito Santo”, na Itália, o papa João Paulo II afirmou: “A Igreja e o mundo têm necessidade de santos, e nós somos tanto mais santos quanto mais deixamos que o Espírito Santo nos configure com Cristo.” Eis o segredo da experiência regeneradora da ‘efusão do Espírito’, experiência típica que caracteriza o caminho de crescimento proposto pelos membros dos vossos Grupos e das vossas Comunidades” (L’Osservatore Romano, 30/03/2002).E mais recentemente - 23 de maio de 2004 -, aos convidar os Movimentos Apostólicos a participar da Vigília de Pentecostes, dava o motivo de seu convite: “...para invocar sobre nós e sobre toda a Igreja uma abundante efusão dos sons do Espírito Santo”...
Que tal manifestarmos a Deus, hoje - quem sabe pela primeira vez, ou, talvez, uma vez mais – a nossa sede e a nossa vontade de receber mais e mais da efusão do Espírito? Associemo-nos a Maria – “aquela que, embora já tendo experimentado a plenitude do Espírito na encarnação do Verbo (gratia plena), obedeceu à instrução do Filho e também colocou-se à espera do cumprimento da promessa do dom do Espírito”. “E todos ficaram cheios do Espírito...” (cf. At 2,4). Peçamos, com João Paulo II, a intercessão dela: “ Ó Virgem Santíssima, mãe de Cristo e da Igreja [...] Tu que estivestes no Cenáculo com os apóstolos em oração, à espera da vinda do Espírito de Pentecostes, invoca a Sua renovada efusão sobre todos os fiéis leigos, homens e mulheres, para que correspondam plenamente à sua vocação e missão, como ramos da ‘verdadeira videira’, chamados a dar ‘muitos frutos’ para a vida do mundo” (Christifideles Laici, n. 64).

BESERRA DOS REIS, Reinaldo. Celebrando Pentecostes: fundamentação e novena. Editora RCC BRASIL. Porto Alegre-RS) Para adquirir este livro
Amigos de Deus

“Eis que vem sobre as montanhas um mensageiro de boa nova, alguém que anuncia a felicidade. Celebra as tuas festas, ó Judá, cumpre teus votos! Porque o ímpio não passará mais por tua terra; está completamente aniquilado. Um destruidor avança contra ti: guarda a fortaleza vigia o caminho, fortifica os teus rins, reúne todo o teu vigor, porque o Senhor restaura o esplendor de Jacó, assim como o esplendor de Israel, depois que os saqueadores despojaram e destruíram seus sarmentos” (Nau 2,1-2).

Amados irmãos e irmãs, membros da RCC do Brasil, a paz de Jesus!
Conforme todos estão acompanhando através dos eventos Regionais e Nacionais da RCC e, inclusive através dos meios de comunicação da RCCBRASIL, o nosso Movimento está vivendo um tempo de construção e de reconstrução ao mesmo tempo. Construção da nossa tão sonhada Sede Nacional e reconstrução espiritual da vida de cada um de nós, membros da RCC.
Por isso, precisamos eleger espaços privilegiados para refletir sobre os projetos da RCC em nossos Grupos de Oração.
Ouso dizer que é importantíssimo fomentar a idéia de que todos nós precisamos nos deixar usar pelo Senhor a fim de formarmos unidade em torno dos projetos e das moções do Espírito Santo para a RCC.
E um dos projetos que devemos nos dedicar a partir deste mês de Julho é o Projeto Amigos de Deus que visa colaborar para a reconstrução da nossa espiritualidade tal como aconteceu com o povo de Deus liderado por Neemias.
Sabemos que todos nós temos vida de oração, mas acreditamos que nestes dias o Senhor tem nos pedido mais. Sentimos que o Senhor nos chama a vivenciar uma espiritualidade mais comprometida e mais disciplinada. Não tem como ser Apóstolo da Efusão do Espírito Santo sem uma profunda vida espiritual!
Por isso, neste tempo de reconstrução espiritual, o Senhor nos convida a cumprir os nossos votos para com Ele, a fim de que aprofundemos a nossa intimidade por meio das práticas espirituais (oração, jejum, confissão, oração do rosário, adoração e leitura orante da Bíblia), tornando-nos autênticos Amigos de Deus, como “pedras vivas de um edifício espiritual, um sacerdócio santo para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (IPe. 2, 5).
Devemos cumprir os nossos votos que fizemos no passado na ocasião do nosso primeiro encontro pessoal com o Senhor.
E que votos são estes?
São votos de compromissos em vivermos próximos do Senhor. Compromissos de santidade e de vivenciar os frutos do Batismo no Espírito Santo.
Compromissos de viver “Vida no Espírito”. Ora, os frutos do Batismo no Espírito Santo, todos nós sabemos que são o gosto pela oração, o gosto pela leitura da Palavra de Deus, o gosto pela Eucaristia, a busca da santidade, etc.
É mesmo muito simples!
E se nos empenharmos em vivenciar em nossa vida estas práticas espirituais que abandonamos, estaremos cumprindo os nossos votos com o Senhor e, consequentemente experimentando em nossa vida e em nosso Movimento os frutos desta “Vida no Espírito”.
Desta forma, desejamos motivar todos os coordenadores de Grupo de Oração a se empenharem nesta primeira campanha do Projeto Amigos de Deus, onde será feita nas Reuniões de Servos a motivação para a prática da Lectio Divina e do Jejum.
É desta maneira que estaremos concretamente colaborando com esta reconstrução que o Senhor deseja iniciar na RCC.
Baseando-nos na vida de Neemias, temos razões muito fortes para confiar no Senhor. Sabemos que Deus jamais nos desamparará. Temos a convicção, como Neemias, que as promessas divinas não falham. Por isso, podemos dizer como ele: “O Deus dos céus fará que sejamos bem-sucedidos. Nós, os seus servos, começaremos a reconstrução... (cf. Ne. 2, 20a).
É isso que dará força para toda a RCC do Brasil! Estamos confiantes nos recursos do Senhor, na vivência sincera das práticas espirituais que Ele nos deixou. Não estamos firmados na força de cavalos nem de cavaleiros. Não estamos confiantes nas capacidades do povo. Apenas estamos confiantes que
Deus nos fará ser bem-sucedidos. Essa é a nossa confiança!
“Mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam alto
como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam”. (cf. Is 40.31)
Rogamos a Nossa Senhora de Pentecostes que nos ajude a levar a termo tudo o que o Espírito nos apresenta para esse tempo da história da Igreja e da
humanidade.
Vamos! Reconstruamos as muralhas!

Luis César Martins

Pe. Léo - Jesus está disfarçado em sua casa (2/2)

Pe. Léo - Jesus está disfarçado em sua casa (1/2)

Podi ser sua ultima chance

Padre Leo (alegria da minha juventude)

Padre Leo, scj - A Caminhada

Virtudes Fé by Padre Paulo Ricardo, revolução jesus,

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Evangelho de João

Capítulo 8 - Livro "Jesus de Nazaré"

Católico e Maçom, é possível?
Do livro "Entrai pela porta Estreita" do Prof. Felipe Aquino

Hoje a Maçonaria atrai muitos católicos, infelizmente, embora a Igreja proiba que nos tornemos maçons.
Com todo o respeito que devemos a cada pessoa, em face à sua opção, devemos contudo, lembrar aos que querem ser autenticamente católicos, que a filiação à Maçonaria é considerada pela Igreja Católica "pecado grave", já que as concepções de Deus e religião, assim como o processo de iniciação secreta imposto aos novos membros, não se coadunam com as noções do Cristianismo relativos a Deus e aos sacramentos, principalmente.
A Igreja tem uma posição oficial sobre o assunto, que foi feita pelo pronunciamento da Santa Sé em 26/11/1983, por ocasião da promulgação do atual Código de Direito Canônico pelo Papa João Paulo II.
Esta é a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que vem assinada pelo seu Prefeito, Cardeal Joseph Ratzinger e pelo Fr. Jérome Hamer, Secretário:
Tem-se perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da Maçonaria pelo fato de que no novo Código de Direito Canônico, ela não vem expressamente mencionada como no código anterior.
Esta Sagrada Congregação quer responder que tal circunstância é devida a um critério redacional, seguido também quanto às outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.
Permanece, portanto, imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e, por isto, permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas, estão em estado de pecado grave, e não podem aproximar´se da Sagrada Comunhão.
Não compete às autoridades eclesiásticas locais pronunciar-se sobre a natureza das associações maçônicas com um juízo que implique derrogação de quanto foi acima estabelecido, e isto segundo a mente da Declaração desta Sagrada Congregação de 17 de fevereiro de 1981 (cf. AAS 73, 1981, pp. 240s).
O Sumo Pontífice João Paulo II, durante a audiência concedida ao subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente Declaração, definida em reunião ordinária desta Sagrada Congregação, e ordenou a sua publicação".
Roma, da Sede da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 26 de novembro de 1983.
É importante notar que a Declaração da Santa Sé afirma que "estão em estado de pecado grave, e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão". Isto é muito sério para os católicos. E é a palavra oficial da Igreja sobre a questão!
O número 386 da Revista "Pergunte e Responderemos", de autoria de D. Estevão Bittencourt, nas páginas 323 a 327, traz um elucidativo artigo sobre o assunto.
Neste artigo D. Estevão, de reconhecida seriedade e competência, teólogo renomado; afirma:
"A Maçonaria professa a concepção de Deus dita "deista", ou seja, a que a razão natural pode atingir; ´ admite "a religião na qual todos os homens estão de acordo, deixando a cada qual as suas opiniões particulares". Esta noção de Deus e de Religião é vaga e não condiz com o pensamente cristão, que reconhece Jesus Cristo e as grandes verdades por Ele reveladas".
"Além disto, tanto a Maçonaria Regular como a Irregular têm seu processo de iniciação secreta. Propõem o aperfeiçoamento ético do homem através da revelação de doutrinas reservadas a poucos e recebidas dos "grandes iniciados" do passado - entre os quais alguns maçons colocam o próprio Jesus Cristo. Celebram também ritos de índole "secreta ou esotérica", que vão sendo manifestados e aplicados aos membros novatos à medida que progridem nos graus de iniciação. "Ora um tal processo de formação contrasta com o que o Cristianismo professa: este não conhece verdades nem ritos reservados a poucos; nada tem de oculto ou esotérico".
Outra razão muito séria que D. Estevão levanta, para mostrar ao católico que não se faça maçom, é esta:
"Ademais, quem se filia a uma sociedade secreta, não pode prever o que lhe acontecerá, o que se lhe pedirá ou imporá; não sabe se lhe será fácil guardar sua liberdade de opções pessoais. Embora tencione manter fidelidade a seus princípios íntimos, pode-se ver em encruzilhadas constrangedoras".
Por outro lado, é preciso lembrar aos católicos que a fé e a doutrina da Igreja é insuperável e completa: herdada dos profetas e dos Apóstolos; revelada por Deus; confirmada pela Tradição dos Santos Padres, Doutores e Santos; confessada pelo sangue dos mártires e guardada pelo Sagrado Magistério. Não é preciso buscar "coisas novas" para alimentar o espírito, uma vez que o próprio Senhor nos oferece a sua Palavra e o seu próprio Corpo na Eucaristia.
O Santo Padre nos outorgou o Catecismo da Igreja Católica, de riqueza inefável, capaz de nos preparar para cumprir aquilo que São Pedro nos pede:
"Estai sempre prontos a responder para a vossa defesa a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança" (IPe 3,15).
Antes de buscarmos "coisas novas", e perigosas para a nossa vida espiritual, ou que põem em risco a nossa própria salvação eterna, vamos antes aprender o que devemos, no seio sagrado e puro da nossa Santa Mãe Igreja.
Além do mais é preciso lembrar que a principal virtude do católico é a obediência à Santa Igreja, chamada pelo Papa João XXIII, de Mater et Magistra (Mãe e Mestra).
Quem desejar compreender melhor as razões pelas quais a Igreja, como Mãe cautelosa, proibe os seus filhos de se associarem às lojas maçonicas, poderá ler o livro do Bispo de Novo Hamburgo, D. Boaventura kloppenburg, Igreja
Maçonaria, Ed. Vozes, 2a. Edição, 1995, ou ainda o livro do Bispo Auxiliar de Brasília, D.João Evangelista Martins Terra, sobre o mesmo assunto.
Infelizmente, em desobediência à Igreja, alguns no passado, até mesmo do clero, se associaram à Maçonaria, no intuito, às vezes, de serem úteis à sociedade, mas isto nunca foi permitido pela Igreja.

Pe. Paulo Ricardo fala sobre a situação da Igreja na China

O Senhor do Aneis - História do Autor - JRR. Tolkien

A LIBERDADE DA ESCOLHA.!

Castidade

                       Soltando a Língua

                   Corpos Belos!

Malhar, se cuidar, beleza!
Mas o exagero pode causar grandes problemas pro corpo e pra cabeça!
Pe Silvio César solta a língua sobre a beleza estética e o culto do corpo num mundo que cada vez mais valoriza o que é belo por fora.
E como cristãos, como achar o equilíbrio? Confere aí:


      Atenção, área VIP

 “ENCALHADO”  você já ouviu falar nesta palavra? Tão temida por alguns e tão vividas por outros…
            Hoje um dos maiores medos nos relacionamentos é o de ficar só, sem namorado; sem namorada. Aí entra esse grande rótulo (encalhado!).
Colocado muitas vezes por nós mesmos.
            Mas eu quero te apresentar uma nova palavra… Por sinal, não a encontramos em qualquer lugar, muito menos para qualquer um…
Pense comigo!
Quantas vezes fomos para um casamento ou uma festa importante e encontramos lá bem grande:
 “RESERVADO”.
Chegamos num supermercado e vemos logo de cara aquela fila:
 “RESERVADA”.
A primeira impressão que fica é que pessoas importantes irão usufruir daquilo que foi separado, escolhido, preparado e reservado.
            Não quero só te dizer que você está reservado (a), mas existe uma pessoa separada, escolhida, preparada e reservada que na hora certa vai dar certo.
Encalhado é uma palavra tão baixa, tão vulgar que ninguém deveria ser rotulado assim. Afinal de contas quem fica encalhada é baleia e na maioria das vezes, ela não consegue soltar-se, fica presa, se ferindo até morrer. 
            Você está encalhado/a?
Não está.
Pense diferente.
Pense assim:
Você está “Reservado/a” você é muito importante e só pessoas importantes podem usufruir, só a pessoa certa pode ter acesso.
Não se deixe levar por essa onda, mas se assuma como: RESERVADO(A)
Como fala Stª Edith Stein “O que vale apena possuir, vale a pena esperar”

Tamu junto
Thiago Teodoro

Espiritualidade Jovem

Ser um jovem espiritual sem ser espirtualóide!!
Sim é possível e necessário!
Este foi o tema abordado com os missionários da Comunidade Shalom no programa Revolução Jesus.
Quem acompanhou pela @tvcancaonova pode dizer e comprovar que o assunto estava pra lá de bacana!
Mas como nossa equipe nunca deixa ninguém para trás, você confere abaixo, os melhores momentos.
Na entrevista, Léo, Gustavo e Moura falam como ser um jovem ESPIRITUAL! E para melhorar o seu dia, você confere na integra a música “Conto Contigo” do novo CD “De malas prontas” da Banda Missionário Shalom.
Fique ligado, porque para esta semana, temos muitas novidades!!!
Tamu junto !!!
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sábado, 10 de julho de 2010

A oração da Ave-Maria

Cardeal Dom Eusébio Oscar Scheid
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

Uma das orações católicas mais populares é a Ave-Maria. Todos rezamos o Terço, por vezes o Rosário inteiro, mas, nem sempre, meditamos sobre o conteúdo desta oração. Por isso, tomei a peito adentrar um pouco sua profundidade.

Sabemos que a oração mais importante do Rosário, é o Pai-Nosso, no qual Cristo resume toda a doutrina do Reino de Deus. A seguir, o Glória proclama o mistério trinitário, e a Ave-Maria celebra o centro do Mistério da Encarnação.

A saudação angélica consta do Evangelho de Lucas, quando o anjo Gabriel foi enviado à Virgem de Nazaré, chamada Maria. Ela estava, certamente, em oração, e o anjo a saúda: “Alegra-te, Maria”. Esta era uma saudação profética em Israel, dirigida a personalidades ilustres, quando recebiam grandes missões. Alegra-te: é o prenúncio de que estão em jogo grandes coisas por acontecer (cf. Lc 1,21ss).

Logo depois, vem assinalado o motivo dessa alegria: “Alegra-te, porque és cheia de graça”. “Cheia de graça” é o título da plenitude: Maria recebera tanta graça quanta era cabível em uma criatura humana. E é nessa plenitude de graça que se radicam os grandes dogmas do culto mariano. Em Maria, evidencia-se a ação plena de Deus, com a colaboração de sua aquiescência humana.

“O Senhor está contigo”. Esta é outra fórmula usual, que também se encontra no chamado de Deus a Moisés (cf. Ex 3,12), assim como a outras personalidades da Antiga Aliança, que receberam de Deus missões difíceis. E, assim, o anjo Gabriel diz a Maria: “O Senhor está contigo”. E ela se assusta, pergunta e titubeia, não sabe do que se trata. E o anjo continua, dizendo-lhe que ela seria a Mãe do Messias: “Eis que conceberás e darás à um luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1,31-33). Não se sabia, então ainda, que o Messias seria Deus. Isto foi revelado somente mais tarde, pelas palavras e pelas obras do próprio Cristo.

Diante da saudação e da proposta que lhe são apresentadas, Maria, finalmente, aceita. Não porque já compreendesse tudo, mas porque vem da parte de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Essa disponibilidade era necessária, para que Jesus pudesse entrar na nossa história, reconduzindo-nos ao primigênio plano do amor de Deus. Naquele momento, começa a restauração da humanidade.

Isabel completa a saudação do anjo: “Tu és bendita entre todas as mulheres” (Lc 1,42). A introdução do termo “mulheres” foi muito oportuna, acentuando a dignidade feminina, porque as mulheres quase não eram consideradas em Israel. Mas a saudação teve um motivo teológico. Maria ia ser a Mãe do Salvador, o Filho de Deus: “Bendito é o fruto do teu ventre”. Reconhecendo-se como serva, acolhe a grandeza da maternidade, como puro dom de Deus: “porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc 1,49), conforme ela cantará no seu Magnificat.

Chegamos à segunda parte da Ave-Maria, composta pela Igreja. “Santa Maria, Mãe de Deus”: “santo” significa tudo o que é separado do profano, reservado, escolhido entre todos. Maria foi toda consagrada a Deus, para ser o vaso insigne, que acolheria a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo de Deus. Ser sua Mãe é a fonte de todas as glórias de Maria.

Ele veio ao mundo com o nome de Jesus, que significa “Deus salva”. Como Verbo de Deus, possui a natureza divina desde sempre. Encarnando, assume a natureza humana, que Maria lhe oferece, como instrumento de colaboração para a Redenção da humanidade, e nunca mais a depõe. Portanto, em sua Pessoa divina há duas naturezas: a divina e a humana. Por isso ela é Mãe de Deus. Esta é uma afirmação dogmática, declarada no ano 431, pelo Concílio de Éfeso, e festejada pelo povo nas ruas daquela cidade.

A parte final da Ave-Maria esclarece seu papel junto a nós: “Rogai por nós, pecadores”. Maria nunca teve que lamentar um remorso, nunca sentiu sofrimentos psicológicos, por ter feito algo que não estivesse de acordo com a vontade de Deus. Portanto, não entra no rol de pecadores e pecadoras. Ela pertence, sim, à humanidade pecadora, mas foi preservada pela força da redenção de Cristo, antecipadamente projetada sobre ela. É o que afirma o dogma da Imaculada Conceição.

Além de ser toda santa, pura e imaculada, é, também, a Mãe das misericórdias. Embora nunca tenha experimentado o pecado, como Mãe é capaz de nos entender, nos momentos em que sentimos o peso da nossa miséria. E, nessa hora, é preciso que ela intervenha. “Rogai por nós pecadores”.

Então, acrescentamos: “Agora”: “Rogai por nós pecadores, agora...”, significando o único momento que, propriamente, temos, pois o antes já se foi, e o amanhã ainda não veio. Esse “agora” é encontrável, muitas vezes, na Bíblia, em expressões como: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz [de Deus] (Sl 94[95]); “Animai-vos mutuamente cada dia durante todo o tempo compreendido na palavra hoje (Hb 3,13). E Cristo fala, diversas vezes: “A minha hora ainda não chegou (Jo 2,4); “Pai, é chegada a hora” (Jo 17,1), referindo-se à Redenção dolorosa da humanidade, que Ele iria realizar.

De agora em agora, chegará o momento da nossa morte. “Rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”. Esta é a hora que nada poderá reter. Melhor é estar bem leve, desapegado de tudo, até de nossos entes queridos, embora chorem de saudade por nós.

Minha mãe, prestes a deixar este mundo, dizia: “Meu filho, não adianta. Quando Deus me atrair, mais do que vocês me podem reter, eu irei”. De fato, nem os mais sagrados laços de parentesco podem deter aqueles que são chamados ao encontro transcendente. Resta-nos acolher o desígnio divino com serenidade, na certeza de que Maria, ouvindo nosso pedido, estará intercedendo por nós, no momento final e terminal.

Procuremos, daqui por diante, rezar bem todas as Ave-Marias, pontualizando palavra por palavra, invocação por invocação. E Maria, em cada uma, vai estar presente com a sua atuação de Mãe, Mãe de Jesus e nossa Mãe.