sexta-feira, 27 de maio de 2011

A adoração ao Santíssimo Sacramento

Caros amigos e amigas,

Confira artigo de Dom Celso Antônio Marchiori, Bispo de Apucarana (PR) sobre a adoração ao Santíssimo Sacramento. Como Bispo, mestre e pai na fé, Dom Celso nos instrui e recorda o que o Magistério da Igreja, a Tradição e a Escritura nos fala sobre este assunto. leia e divulgue!



O QUE A IGREJA FALA SOBRE A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

A Igreja nos ensina que “a reserva do Corpo de Cristo para a Comunhão dos enfermos criou entre os fiéis o louvável costume de se recolherem em oração para adorar Cristo realmente presente no Sacramento conservado no sacrário. Recomendada pela Igreja aos Pastores e fiéis, a adoração do Santíssimo é uma alta expressão da relação existente entre a celebração do sacrifício do Senhor e a sua presença permanente na Hóstia Consagrada”. (Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Ano da Eucaristia, n. 13)

Sobre este ponto assim se expressou João Paulo II em sua Exortação Apostólica Pós-sinodal, Sacramentum Caritatis, n. 66: “De fato, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude de adoração d´Aquele que comungamos. Precisamente assim, e somente assim, é que nos tornamos um só com Ele e, de algum modo, saboreamos antecipadamente a beleza da liturgia celeste. O ato de adoração fora da Santa Missa prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria celebração litúrgica. Com efeito, somente na adoração pode maturar um acolhimento profundo e verdadeiro. Precisamente neste ato pessoal de encontro com o Senhor amadurece depois também a missão social, que está encerrada na Eucaristia e deseja romper as barreiras, não apenas entre o Senhor e nós mesmos, mas também, e sobretudo, as barreiras que nos separam uns dos outros”.

Portanto, “O permanecer em oração diante do Senhor vivo e verdadeiro no santo Sacramento amadurece nossa união com Ele: dispõe-nos para a frutuosa celebração da Eucaristia e prolonga as atitudes de culto por ela suscitadas”. (Ano da Eucaristia. n. 13)

SEGUNDO A BÍBLIA, O QUE DEUS NOS FALA SOBRE A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Na Bíblia não vamos encontrar literalmente a expressão: “adoração ao Santíssimo Sacramento”. Mas, na verdade, o que é o Santíssimo Sacramento? É Deus presente no meio do seu povo. É Jesus atuando na história. Portanto, vamos encontrar na Bíblia diversos textos que nos sugerem adoração a Deus. De fato, somente a Deus devemos adorar. Adorar a Deus é o máximo que podemos fazer enquanto passamos pelos caminhos da existência terrestre. Nossa primeira atitude como criaturas diante do Criador é, sem dúvida, a adoração. Pela adoração exaltamos a grandeza do Senhor que nos fez e a onipotência do Salvador que nos liberta do mal. A adoração do Deus três vezes santo e sumamente amável nos enche de humildade e dá garantia a nossas súplicas. No Antigo Testamento podemos ler frequentes vezes expressões como estas: “Todo o povo se prostrou com o rosto em terra para adorar e bendizer no céu aquele que os havia conduzido ao triunfo” (1Mac 4, 55). “Assim vos bendirei em toda a minha vida, com minhas mãos erguidas vosso nome adorarei”(Sl 62, 5). “É somente a vós, Senhor, que devemos adorar”(Br 6, 5). “Prostrando-se diante dele, o adoraram”(Mt 2, 11). “…os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja”( Jo 4, 23). Quando nos prostramos em adoração a Jesus no Santíssimo Sacramento, somos muito mais felizes que Abraão, Moisés, Davi, os Profetas… Sem dúvida, eles adoraram a Deus Santíssimo, ou como é comum na Bíblia, ao Deus três vezes Santo, ou ao Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus do universo. Mas como nos diz a Palavra em Hb 11, 13, eles “morreram firmes na fé. Não chegaram a desfrutar a realização da promessa, mas puderam vê-la e saudá-la de longe e se declararam estrangeiros e peregrinos na terra que habitavam”. Nós, porém, somos privilegiados. Diante do Santíssimo Sacramento, nossa experiência se identifica com a experiência dos Apóstolos, pois estamos diante de Jesus vivo e operante. No silêncio, ele nos ensina como Mestre. Encerrado no Sacrário, Ele nos dá a liberdade, escondido na Hóstia Consagrada Ele nos revela a glória de Deus Pai e o poder do Espírito Santo. Assim como no deserto o Senhor Deus libertou seu povo da escravidão do Egito, no Santíssimo Sacramento o Senhor Jesus nos liberta de nossa aridez espiritual, de nosso egocentrismo, de nossos vãos desejos. Ele nos liberta da escravidão do pecado e nos conduz à vida da graça. Ele nos aproxima do Pai celestial e de todos os irmãos e irmãs, faz-nos crescer em comunhão, torna-nos solidários com os mais carentes e nos abre o coração para acolhermos a vontade de Deus. No Santíssimo Sacramento, Jesus é nosso refúgio e nossa segurança, nossa paz, nosso caminho, nossa vida e nossa verdade. Ali no tabernáculo Jesus nos aponta para o Tabernáculo eterno.

1.1. COMO PREPARAR-SE PARA PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

É recomendável, para um aproveitamento mais eficaz da devoção eucarística, que os adoradores estejam em estado de graça, ou seja, que pratiquem a confissão sacramental com mais frequência, busquem viver uma vida digna, sejam testemunhas fiéis, sejam assíduos à leitura orante da Bíblia, especialmente que conheçam os Santos Evangelhos como também tenham sempre mais interesse pelo estudo da doutrina católica, sobretudo pelo que a Igreja ensina através de seu Catecismo e de seus documentos. Reconhecendo Jesus na Eucaristia, precisamos também reconhecê-lo entre nós, em todas as pessoas e especialmente na pessoa dos mais sofredores.

1.2. COMO FAZER A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Segundo a tradição da Igreja, exprime-se de diversas modalidades:

– a simples visita ao Santíssimo Sacramento, conservado no Sacrário: breve encontro com Cristo, sugerido pela fé na sua presença e caracterizado pela oração silenciosa;

– a adoração diante do Santíssimo Sacramento exposto, segundo as normas litúrgicas, na custódia ou na píxide (receptáculo da Eucaristia) de forma prolongada ou breve;

– a adoração perpétua, a das Quarenta Horas ou noutras formas, que empenham toda a comunidade religiosa, uma associação eucarística ou uma comunidade paroquial, e que são ocasião de numerosas expressões de piedade eucarística (cf. Diretório, 165).

- cada um de nós tem sua criatividade; são inúmeras as formas que nos ajudarão a adorar profunda e respeitosamente a Jesus Eucarístico; diversos são os instrumentos que podemos usar para nos ajudarem a rezar com eficácia diante do Santíssimo. Temos a Bíblia, especialmente os Salmos, o rosário é um valioso e eficaz instrumento para nossa adoração, existe ainda uma infinidade de livros de orações. Mas nunca nos esqueçamos de que se faz muito importante o silêncio. A oração silenciosa e contemplativa é de um valor sem medida, precisamos resgatar o silêncio em nossas adorações eucarísticas. Nós precisamos aprender a cultivar o silêncio que nos leva às profundezas do ser, onde podemos realmente ter um encontro alegre e salvífico com o Senhor.

1.3. QUAIS OS BENEFÍCIOS E EFEITOS DA ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Adorar Jesus no Santíssimo Sacramento, além de nos encher de alegria, também amadurece nossa união com Ele; somos mais livremente conduzidos à celebração da Eucaristia e saudavelmente crescemos no amor a Deus e ao próximo. Em outras palavras, essa relação pessoal com o Senhor favorece um contínuo crescimento na fé e prolonga a graça do Sacrifício Eucarístico celebrado especialmente no Domingo (Dies Domini). A Eucaristia estimula à conversão e purifica o coração. Reaviva nosso coração e nos impulsiona à celebração da Missa Dominical. O ato de adorar Jesus no Santíssimo Sacramento nos aproxima de Deus Pai, abre nosso coração para a ação do Espírito Santo, faz arder nosso coração quando lemos as Escrituras, especialmente os Santos Evangelhos, impulsiona-nos para irmos ao encontro dos irmãos, especialmente os mais necessitados, firma-nos como discípulos e nos faz ardorosos missionários. Nosso “encontro com o Senhor, presente na Eucaristia, amadurece também a missão social, que está encerrada na Eucaristia e deseja romper as barreiras não apenas entre o Senhor e nós mesmos, mas também e, sobretudo, as barreiras que nos separam uns dos outros” (Bento XVI). A adoração ao Santíssimo Sacramento purifica e alimenta a comunhão entre os esposos; tonifica o ministério dos Pastores da Igreja e a docilidade dos fiéis ao seu magistério; os enfermos experimentam a comunhão com o sofrimento de Cristo; todos se sentem motivados a buscar a reconciliação sacramental para poderem comungar com proveito; a comunhão e a unidade são garantidas entre os múltiplos carismas, funções, serviços, grupos e movimentos no seio da Igreja; todas as pessoas empenhadas nas diversas atividades, serviços e associações de uma paróquia, são identificadas por atitudes pautadas pelos valores do Evangelho e por uma espiritualidade de comunhão; e ainda, a adoração ao Santíssimo sustenta as relações de paz, de entendimento e de concórdia na cidade terrena, entre todos os seres humanos. “Prostrando-nos diante da Eucaristia, aprenderemos de maneira certa o que significa comunhão, cultura do diálogo, vida solidária, serviço aos mais necessitados e respeito à dignidade humana. Graças à iniciativa do Senhor que quis permanecer conosco podemos aprender dele as melhores lições.

A busca incessante de muitos homens de hoje em responder às suas grandes perguntas não pode ser desvinculada da fé que nos faz prostrar diante de Jesus “simples” (DIEGO TALES). Portanto, “Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus presente na Eucaristia, reparando com a nossa fé e o nosso amor os descuidos, os esquecimentos e até os ultrajes que nosso Salvador deve sofrer em tantas partes do mundo” (Mane Nobiscum Domine, n.18). No documento para o Ano da Eucaristia, nº 6, encontramos este salutar ensinamento: “A Eucaristia nos torna santos, e não pode existir santidade que não esteja encarnada na vida eucarística. “Quem come a minha carne viverá por mim” (Jo 6, 57).

1.4. QUAIS OS PREJUÍZOS QUANDO NÃO PRATICAMOS A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Segundo o Papa Bento XVI, “pecaríamos se não adorássemos” o Santíssimo Sacramento. Diante de Jesus Sacramentado encontramos refúgio, alento, renovação de nossas forças desgastadas pelos inúmeros trabalhos e preocupações. Se deixarmos de procurar Jesus no Santíssimo Sacramento não estaremos em comunhão com Ele que se entrega totalmente a nós na celebração da Missa. Não praticar a adoração ao Santíssimo Sacramento pode significar que Jesus não está em primeiro lugar em nossa vida. E se Ele não ocupa o primeiro lugar em nossa vida, estamos em dificuldades, pois “sem Ele nada podemos fazer” (Jo 15, 5); sem Jesus deixamos de produzir frutos, ou seja, virtudes, atos de amor, e se não somos virtuosos ou não praticamos atos de amor, tornamo-nos perigosos para nós mesmos e para os que conosco convivem. Sem Jesus falamos o que não convém, o que não edifica; fazemos coisas que impedem nosso crescimento no Reino de Deus e, consequentemente, nossa comunhão com Deus e com os irmãos fica comprometida. Sem adoração a Jesus no Santíssimo Sacramento perdemos muitas graças, muitas bênçãos; e, ainda, não contribuímos para que o Reino de Deus cresça, para que os pecadores se convertam, para que a paz, que é fruto da justiça, reine em nossos corações, em nossos lares, em nossas comunidades, em nossa sociedade e no mundo. Os prejuízos seriam muitos. Poderíamos identificá-los com o que encontramos em Jo 15, se não permanecermos unidos a Jesus. E é dEle mesmo que escutamos este apelo “sem mim nada podeis fazer”(Jo 15, 5).

1.5. QUAL A REGULARIDADE PARA PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Felizmente não existe limite. Sempre que tenhamos tempo disponível e Igreja ou Oratório por perto, aproveitemos para fazer uma visita ao Senhor presente no Santíssimo Sacramento. Especialmente, busquemos a Jesus sacramentado antes da Missa dominical, ou ainda, quando estivermos passando por uma Igreja ou Oratório, sintamo-nos livres para irmos ao encontro do Senhor que alegremente nos aguarda no Sacrário para nos acolher e derramar sobre nós suas graças, seu carinho e seu amor. Quanto mais permanecemos ao lado de quem nos ama mais nos sentimos amados. Quanto mais perto de Jesus no Santíssimo Sacramento, mais nos sentimos amados por ele, e, consequentemente, mais nos sentimos impelidos a amar nossos semelhantes. Segundo Bento XVI “É bom demorar-se com Ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto (cf. Jo 13, 25), deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração. Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar, sobretudo, pela «arte da oração», como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação, apoio!”. Sigamos o exemplo de tantos santos e santas que “na Eucaristia encontraram o alimento para o seu caminho de perfeição. Quantas vezes eles verteram lágrimas de comoção na experiência de tão grande mistério e viveram indizíveis horas de alegria ‘esponsal’ diante do Sacramento do altar”.(Mane Nobiscum Domine, n.31). Daí que, ainda neste mesmo Documento, somos assim motivados: “A presença de Jesus no tabernáculo deve constituir como que um pólo de atração para um número sempre maior de almas apaixonadas por Ele, capazes de ficar longo tempo escutando a voz e quase que sentindo o palpitar do coração” (Mane Nobiscum Domine, n. 18). Neste mesmo documento, no nº 30, dirigindo-se especialmente aos consagrados e consagradas, João Paulo II faz um veemente convite, dizendo: “Jesus no Sacrário espera por vós junto d´Ele, para derramar nos vossos corações aquela experiência íntima da sua amizade que é a única que pode dar sentido e plenitude à vossa vida”. Acolhamos nós também esse amável convite e não hesitemos em correr ao encontro do Senhor para permanecermos em oração diante d’Ele.

1.6. QUEM PODE E QUEM DEVE PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?

Podem e devem praticar a adoração ao Santíssimo Sacramento todos os que acreditam na presença real de Jesus na Santíssima Eucaristia e querem viver uma experiência de intimidade com o Senhor ressuscitado. A adoração eucarística é um prolongamento da celebração da Missa, de tal forma que ficará faltando alguma coisa para quem realiza sua adoração e não participa da Missa, especialmente aos Domingos, pois “A celebração eucarística é, com efeito, o coração do Domingo”. Poderíamos dizer, então, que somente quem celebra o Domingo, com sua participação na celebração da Missa, pode realmente adorar o Senhor no Santíssimo Sacramento, a não ser que se esteja impedido, por algum motivo, de participar da celebração dominical. A adoração eucarística é um exercício espiritual, pessoal ou comunitário, que nasce da celebração do memorial da Páscoa do Senhor, a Santa Missa, e a este mistério o adorador deve ser conduzido. Então, podemos afirmar que “o verdadeiro adorador é alguém que participa plenamente da Ceia do Senhor, onde recebe o Pão da Vida e toma do Cálice da Salvação. Ele consegue, na prece silenciosa diante da Eucaristia, fazer passar pelo coração (recordar) as maravilhas de Deus. É alguém que ama verdadeiramente a sua comunidade eclesial e que não recusa jamais o serviço aos irmãos e irmãs, prolongando, assim, a Eucaristia na vida”. O verdadeiro adorador busca profeticamente construir a comunhão e a unidade na comunidade onde vive e desenvolve sua fé. Quem pratica com devoção e humildade a adoração ao Santíssimo Sacramento vive como os primeiros cristãos, como está registrado no livro dos Atos dos Apóstolos, que eram assíduos à oração, com Maria, mãe de Jesus. E que “Unidos de coração freqüentavam todos os dias o templo”(cf. At 1, 14; 2, 46).


fonte: http://www.diocesedeapucarana.com.br/?p=det_noticia&id=552