terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Quaresma: tempo de orar, jejuar e se doar

Neste episódio do 'Podvir' – o podcast do canal de eventos –, a produtora de conteúdo do Portal Canção Nova Ariane Fonseca conversa com o Reitor do Seminário de Cuiabá (MT), padre Paulo Ricardo, sobre as penitências na Quaresma e a espiritualidade deste tempo.


Podvir: Padre, é pecado não praticar penitências na Quaresma?
Padre Paulo Ricardo: Não se trata de pecado e, sim, de uma questão de fazer bem ou não à pessoa. Quando falamos de pecado as pessoas pensam em proibição, mas não é assim. Precisamos da penitência; ela faz parte da vida do ser humano. Quando você vai comprar um carro pode escolher vários acessórios. Porém, algumas coisas não são acessórios, como o freio, que é essencial. Deus nos dá a capacidade de desejar, de querer as coisas, mas temos que utilizar o “freio”, não colocando em prática todos os nossos desejos. A penitência nesse período alimenta em nós a virtude da temperança e o combate à idolatria.

Podvir: Muitos fiéis acham que a Quaresma é um tempo de privações das coisas de que gostam. Mas é possível também levá-la para o lado positivo? Por exemplo: se a pessoa não gosta de comer verduras, comê-las nesse período; ou, se não é acostumada a visitar um asilo, passar a fazê-lo. Isso funciona como penitência também?
Padre Paulo Ricardo: Sim! O pecado nos conduz à morte; a virtude nos conduz à vida. As pessoas ficam com medo ao fazer penitências, mas elas são necessárias para que a gente saia do pecado e nasça um homem livre para Deus.

Podvir: Por que a carne se tornou símbolo da penitência no período quaresmal? O jejum desse alimento é mais importante que de outra forma?
Padre Paulo Ricardo: A carne é um alimento rico em proteína, por isso ela demora para ser digerida. Se você não comer carne significa comer alimentos que ficarão por menos tempo no estômago, sentindo a sensação de fome. A resistência à sensação de fome educa a vontade e traz a firmeza, por isso virou símbolo na Quaresma.

Podvir: Tem gente que acha também que a Quaresma é tempo de tristeza. Como viver esse período de forma leve, alegre, sem ficar cabisbaixo?
Padre Paulo Ricardo: A Quaresma ficou associada a um período de tristeza porque é um tempo em que somos chamados ao recolhimento e ao silêncio. As três práticas que aconselhamos no período quaresmal são: "jejum, esmola e oração" (cf. Mateus 6). Para que haja oração é necessário o silêncio, pois a principal oração cristã é ouvir a Deus e não falar. Não é possível ouvir se não houver silêncio.

Jesus nos diz: "A verdade vos libertará". A Quaresma provoca o encontro de uma certa tristeza, mas é importante perceber que existe a tristeza que não vem de Deus, mas, também, a que é um presente d'Ele. Quando o Senhor criou o homem deu a ele a capacidade de ficar triste, para que quando ele se perdesse a tristeza o levasse de volta para a casa.

Podvir: Existe valor nas atitudes das pessoas que vivem a Quaresma segundo a tradição, mas, depois da Páscoa, voltam à vida velha?
Padre Paulo: Esse é um grande problema de confundir as alegrias: voltar à vida velha. São João Bosco disse a São Domingos Sávio: "A forma de sermos santos é sermos alegres", mas é necessário sabermos interpretar esta alegria; a alegria pascal de quem morreu para o mundo e por isso pôde ressuscitar.

O Papa Bento XVI escreveu – em seu livro “Dogma e anúncio” – que não pode cantar o "Aleluia" na manhã de Páscoa aquele que não chorou seus pecados na Semana Santa. Aproveite este tempo da Quaresma para chorar seus pecados, porque, assim, a alegria pascal virá!

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