terça-feira, 19 de janeiro de 2010

TER IMAGENS NA IGREJA, OU EM CASA É IDOLATRIA?

Acredito muito numa catequese permanente. Todos nós, tendo ou não recebido os sacramentos da iniciação Cristã, devemos estudar, ler e aprender sempre mais sobre a Palavra de Deus e sobre o que nos ensina o magistério da Igreja, através dos documentos de ontem e de hoje.
Pelas perguntas feitas no programa de rádio, Fé em Debate, pelas cartas e pelos depoimentos de fiéis que chegam através de nosso site, percebo o nível superficial de alguns pontos da fé, de muitas pessoas que o desconhecimento das verdades da fé, gera medo, desconforto e até incredulidade.
Por isso, aproveito esse espaço para novamente tratar de um dos assuntos do qual mais sou questionado: "Ter imagens na igreja ou em casa é idolatria?"


Imagens & idolatria

De fato, em Deuteronômio 4,15-16 está escrito: "No dia em que o Senhor vos falou do meio do fogo Horeb, não viste figura alguma. Guardai-vos bem de corromper-vos, fazendo figura de ídolos de qualquer tipo". Há quem leia esse texto bíblico e conclua que ter imagens é coisas do mal ou idolatria.
Porém, vale a pena ressaltar: há outros trechos bíblicos que incentivavam ao povo judeu ter imagens. Lembremos por exemplo, que Deus pede a Moisés que construa uma arca de madeira, com imagens de dois querubins na tampa (Ex 25,10-32). E, das passagens que falam da construção de um templo em Jerusalém e descrevem como seriam as imagens dos querubins (1Rs 6,23-28; 2Cr 3, 8-13).
Ainda no Antigo Testamento, no Livro dos Números, Deus manda que Moisés faça uma serpente de bronze e a coloque sobre uma haste, para que o israelita que fosse mordido por uma serpente, olhando para a serpente de bronze conservava a vida (Nm 21,4 -9).
Portanto, através desses textos, constatamos que a própria Bíblia mostra que as imagens eram aceitas pelos judeus. Assim, podemos afirmar que "o culto às imagens não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe adoração aos ídolos". Ou seja, ídolos são ídolos; imagens são imagens.
Ídolos são todas as coisas que podem ocupar no altar do coração do ser humano o lugar de Deus. Enquanto que, imagens são sinais visíveis do Deus invisível, que estabeleceu em Cristo uma Nova Aliança. Ver representando o rosto humano do Filho de Deus, "imagem de Deus invisível" (Cl 1,15) é ver “o verbo feito carne" (Jo 1,14).
A arte pode representar a forma e levar àquele que a contempla ao mistério do mesmo Deus feito homem para nossa salvação.
Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam "a nuvem de testemunhas" (Hb 12,1) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criado "à imagem de Deus" e transfigurado "à sua semelhança", assim como os anjos, também recapitulados em Cristo (CIC 1161).
Imagens e iconografias das catacumbas indicam que as comunidades cristãs primitivas representavam Jesus, como o peixe, o Bom Pastor e outras pinturas representando santos e anjos. As catacumbas de Santa Priscila, em Roma, mostram fragmentos de um afresco de Maria com o Menino Jesus.
Estes registros comprovam que para os cristãos primitivos, o uso imagens não eram consideradas de idolatria. A primeira heresia contra seu, conhecida como iconoclasmo, ocorreu no século 8, pelo imperador bizantino, Leão III.

Adoração & veneração

O Concílio de Nicéia II, realizado no ano de 787, foi de fundamental importância para a resolução da polêmica quanto ao uso das imagens e a heresia iconoclasta - contra imagens. Muitos se apegam a este Concílio para manter unidas as igrejas do Oriente e do Ocidente. Do lado Ocidental destacamos João Damasceno, que utilizou argumentos fortíssimos para mostrar que as imagens não são idolátricas: "A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus", afirmava ele.
Do lado Oriental, os Santos Nicéforo e Teodoro apontavam a veneração do ícone como parte da liturgia: "Como a leitura dos livros matérias pertence à audição da Palavra viva do Senhor, assim a exposição de um ícone figurativo permite àqueles que o contemplarem ter acesso aos mistérios da salvação mediante a vista".
Ou seja, o Concilio Ecumênico da Nicéia II estabeleceu uma distinção sobre adoração e veneração que é de grande importância para todos nós. De um lado existe a verdadeira adoração (latro) que só é devida a Deus, e do outro, a "prosternação de honra", a veneração que se tem para com as imagens.
A Igreja nunca pregou "adoração" aos santos ou à Virgem Maria. Por isso repito: a adoração (latria) é devida somente e exclusivamente a Deus. Segundo São Basílio: "A honra prestada a imagem se dirige ao modelo original". São Tomás de Aquino, diz em sua suma teológica sobre as imagens: "O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidade, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é a imagem".
As imagens são expressões da linguagem da beleza e da arte a serviço da fé. A arte está na Igreja para expressar a realidade da encarnação e exprimir a realidade de Jesus Cristo, que se dignou habitar na matéria assumindo a forma humana.

Verdades confirmadas

Espero que todos esses argumentos possam ter clareado e servido para aumentar mais a fé em Cristo e na Igreja. É possível confirmar todas essas verdades no Novo Catecismo da Igreja Católica - dos parágrafos 1159 à 1162 e 2129 à 2132.
O último Concílio Ecumênico, o Vaticano II, confirma as afirmações e exortações dos concílios anteriores (L.6 nº 157) e faz, sem dúvida, uma advertência para que evite devoções menos corretas e exageros. Por outro lado, reafirma a festa dos Santos como sendo uma forma de "proclamação das maravilhas de Cristo operadas em seus servos e mostra aos fiéis, os exemplos a serem imitados" (C.F.S.C Nº 706).
Portanto não tenhamos dúvidas e nem receio de ter imagem tanto nas Igrejas como dentro de nossas casas, se elas nos elevam a Deus, único merecedor de nossa adoração.

Padre Reginaldo Manzotti

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